
NA MATA
(ALGURES NO NORTE DE ANGOLA)
A noite surge...
Entre os humanos, os sonhos emudecem vazios de contexto ou
contendo...
Os olhares se dilatam e as atenções se intensificam até ao limite
máximo das suas capacidades de abrangência...
E a noite chega e rola, arrastando-se silenciosa e amedrontada...
O Sol, o rei da luz, senhor do infinito e da energia, se oculta com
doçura na linha do horizonte...
Panteras, chacais, hienas, palancas, leões e outros tais, acordam,
despertam, vencendo lentamente o entorpecimento natural,
desse dia frio, de cacimbo...
As aves, após um rodopio alegre, pleno de vida e contínuo, durante
quase todo o dia, calam seus delicados e maravilhosos cantos
e recolhem-se aos seus ninhos, aos seus pontos de abrigo...
Na mata, nas entranhas da mata, sempre silenciosa, misteriosa e
encantadora, surgem os primeiros vultos de animais, alguns de
estrutura imponente e temerária que, na sua passagem, se
confundem com a ramagem envolvente e a terra que lhes serviu
de leito...
E essas nobres criaturas avolumam todos os indícios de, em
separado ou em grupo, se estarem a preparar para os tempos
ou momentos de luta que brevemente irão surgir para se
defenderem ou na procura da sua alimentação, se tal for o caso,
para dar continuidade à família e à espécie. É uma fase contínua
e importante das suas vidas...
Depois...logo depois, o Sol, contrariado, acorda e logo se ergue de
novo no horizonte fazendo quebrar este desalinhamento natural
entre os vários animais e a restaurar a energia dos mais nobres
guerreiros, os reis da noite e da selva...
E a vida, nas suas diferentes fases, se repete numa sequência
regular, ritmada e contínua até à consumação dos séculos...
Na vida nada se perde...
Tudo se transforma e perpetua...
ZÉ ROQUE
Sem comentários:
Enviar um comentário