OS MENINOS DE LUANDA
Cai o cacimbo, na tarde acinzentada
Eu sigo a luz difusa do caminho
Gente que por mim passa, amargurada
A face entristecida e enrugada
A avó negra aconchega seu netinho.
Passo um vulto 'inda envolto na neblina
Dois ohitos que brilham, mas sem 'sperança
Vestido esfarrapado de menina
Que estende uma mãozinha pequenina
Vislumbro um rosto triste de criança.
Mal meto a mão no bolso para dar
Algo àquelas mãos assim estendidas
Logo surge outra e outra sem parar
Numa cadência infinda, de pasmar,
Mãos de criança, abertas, sempre erguidas.
Olhitos inocentes, tão abertos
Destas pobres crianças sem vintem
Que andam por ali...passos incertos
Sem rumo, sem um teto, descobeertos
Sem nunca conhecer...amor de Mãe!
Crescem só, sem amparo de ninguém
Na rua aprendem truques p'ra viver
Eles são "meninos-homens" pequeninos
Espertos, "mãos-ligeiras", tão ladinos,
Que pela vida passam a correr.
Na santa inocência desta idade
Há vultos que nas brumas do futuro
Saltam, correm, felizes de verdade,
Alheios a um Destino tão obscuro
Como o crepúsculo triste da cidade...
Maio de 1992
João Rosa Pinto
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